Na minha época de terceirão, em 2007, gostava muito das aulas de literatura e artes, ambas matérias de uma mesma professora. Lembro de uma aula em que ela falou sobre cinema, e foi algo do tipo: "As pessoas vão ao cinema para fugirem da realidade. Os filmes têm finais felizes para suprir a necessidade do homem de acreditar, de ter esperança em coisas boas. Ninguém gosta de ir ao cinema para enfrentar as mesmas dificuldades do dia a dia."
Aos poucos esse estereótipo mudou. Com frequência vemos filmes sobre a pobreza e a miséria, sobre preconceito, sobre estupros, assassinatos, drogas e fatalidades em geral. Mesmo quando o assunto é pesado uma dose de esperança é aplicada, afinal, alguma coisa boa tem que ter. Quando tratam de favelas, normalmente tem projeto social no meio. Quando o personagem é viciado em drogas, a recuperação eventualmente acontece ou a família/amigos conseguem se desvencilhar do fardo e tocam a vida adiante. Desse modo, diversas possibilidades existem para garantir o mínimo de satisfação ao terminar de assistir um filme.
The Boy in the Striped Pajamas (O Menino do Pijama Listrado) é uma exceção. O pouco de "beleza" absorvido durante o filme desaparece logo quando o final torna-se óbvio e inevitável. A graça das crianças, o "quê" a mais responsável pelo adjetivo "bonitinho" carregado por todas elas, a tal da inocência que a cada geração diminui um tanto ultimamente tem sido a grande vilã ao redor das personagens mirins.
Milk a parte, todos os filmes sobre os quais escrevi neste espaço ontem (e agora) mostram essa mesma inocência. Seja por mergulhar em um bolo de cocô, seja por passear pela vizinhança ou por querer fazer um amiguinho novo. A mensagem dos filmes parece ser contra a preservação da essência infantil.
Obviamente não é essa a mensagem. Dói mais quando a vítima é um ser indefeso. Não somente indefeso pela sua força física, mas também indefeso mentalmente. A inocência impede a capacidade de desacreditar e permite a confiança absoluta naquilo em que você vê (seja realidade ou pura imaginação). Se em adultos ainda existem resquícios desse comportamento, lembremos como éramos quando crianças e queríamos ser tantas coisas diferentes e acreditávamos em tantas estórias que nos contavam.
O contexto é a Alemanha nazista. O pai da família é um soldado do partido que acaba de ser promovido, logo a família toda é obrigada a mudar de cidade. Dentro dessa única família as divergências de opiniões são gritantes. A avó, mãe do pai soldado, já demonstra o seu alinhamento no começo da estória. Enquanto a filha rapidamente aceita Hitler e o nazismo de braços abertos, o garoto não compreende o ódio aos judeus. Uma esposa desiludida com o homem com quem se casou praticamente entra em colapso ao tomar conhecimento da real função exercida pelo seu marido.
Tudo junto e misturado a uma amizade entre um filho de oficial nazista e um judeu em campo de concentração mostra como quando não se tem noção da proporção do problema qualquer relação entre indivíduos é possível. Talvez seja esse o ponto positivo. Mas não vale muita coisa perto do desenrolar da trama.
Parte da grande frustração desse filme é o papel adorável do menino Bruno. Antes fosse o Macaulay Culkin de O Anjo Malvado seria muito mais fácil de aceitar o destino da criança. Outro ponto frustrante é como o menino admirava cegamente seu pai por ser um soldado (eterno personagem nas brincadeiras de moleques) e consequentemente acreditava na bondade do seu trabalho. Finalmente, a frustração mor é em razão da inocência.
Tudo de bom no filme é desfeito na rapidez de algumas cenas. A reflexão que fica é apenas sobre a crueldade. Só.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Embalo pós Oscar night
Sempre a mesma coisa. A cada ano que passa novos filmes bombásticos são produzidos e todos os cinéfilos saem correndo para prestigiarem as novas mega-produções. Confesso que Ponta Grossa impede essa possibilidade aos frequentadores do cinema local, mas basta um retorno ao lar para que eu faça um update no new movies database.
O primeiro filme da sequência foi o ganhador de singelas 8 estatuetas (de 10 indicações) do Oscar, Slumdog Millionaire (Quem quer ser um milionário?).
Com o decorrer do longa-metragem são tantas informações e fatos que nos fazem parar por um momento e pensar: "Peraí, mas qual é o tema principal mesmo?" E, na minha opinião, aí jaz a beleza da produção. A capacidade de misturar uma história de amor com problemas sociais de todos os tipos e níveis, com uma pitada de gângsters, com os laços de família se entrelaçando e desentrelaçando para entrelaçarem-se novamente, com a típica inocência infantil e, obviamente, preconceito, sem cansar a mente ou confundir a audiência é genial.
Sem dúvidas, um filme para refletir. O fato de um slumdog virar millionaire pode ser encarado como um detalhe quando comparado à sequência de acontecimentos que permitiram o personagem alcançar a fortuna.
Em seguida (literalmente) o filme é Milk (Milk: A Voz da Igualdade).
Pra começar, Sean Penn atuou de maneira brilhante. Antes de assistir ao filme, li várias resenhas sobre o mesmo em diversas revistas e o máximo que esperava era a polêmica em torno de um assunto delicado para a época (e até mesmo nos dias de hoje). Além de retratar como a comunidade gay conquistou seu espaço a partir de uma rua até reconhecimento nacional, Sean Penn foi muito bom.
Apesar do ponto forte com uma atuação exemplar, o longa em si não merece tanta pompa. Muito bom, mas não excelente. Principalmente depois de ver o Slumdog. O interessante mesmo é a parcela de realidade, o fato histórico da coisa. Vale ressaltar como também é levado em consideração o conflito interno de um homossexual até "sair do armário", a união de um grupo em defesa dos interesses em comum - coisa que não se vê com tanta frequência assim, e os relacionamentos amorosos tão conturbados quanto em qualquer filme hetero.
(Para aqueles que assistiram Brokeback Mountain e não gostaram pelo homossexualismo e só, nem gastem seus dinheiros com Milk.)
Para finalizar a maratona, por enquanto, a última sessão foi com Angelina Jolie em The Changeling (A Troca).
Bom, a fama da atriz de supermommy não é novidade pra ninguém, né? Provavelmente a melhor escolha para o papel. Como diria Nicole Kidman: "As one who would not let her son be forgotten", Jolie entende muito bem de babies.
Convenhamos, a mulher é foda. E encarnar outra mulher tão foda quanto não é pra qualquer uma.
(Confesso que não curti Jennifer Aniston ser trocada por ela, Brad Pitt combina muito mais com a Jenny do que com a Angie. Enfim, quem entende os troca-trocas Hollywoodianos?)
Enfim, o começo da minha semana de Carnaval em casa foi assim: overdose de cinema.
O primeiro filme da sequência foi o ganhador de singelas 8 estatuetas (de 10 indicações) do Oscar, Slumdog Millionaire (Quem quer ser um milionário?).
Com o decorrer do longa-metragem são tantas informações e fatos que nos fazem parar por um momento e pensar: "Peraí, mas qual é o tema principal mesmo?" E, na minha opinião, aí jaz a beleza da produção. A capacidade de misturar uma história de amor com problemas sociais de todos os tipos e níveis, com uma pitada de gângsters, com os laços de família se entrelaçando e desentrelaçando para entrelaçarem-se novamente, com a típica inocência infantil e, obviamente, preconceito, sem cansar a mente ou confundir a audiência é genial.
Sem dúvidas, um filme para refletir. O fato de um slumdog virar millionaire pode ser encarado como um detalhe quando comparado à sequência de acontecimentos que permitiram o personagem alcançar a fortuna.
Em seguida (literalmente) o filme é Milk (Milk: A Voz da Igualdade).
Pra começar, Sean Penn atuou de maneira brilhante. Antes de assistir ao filme, li várias resenhas sobre o mesmo em diversas revistas e o máximo que esperava era a polêmica em torno de um assunto delicado para a época (e até mesmo nos dias de hoje). Além de retratar como a comunidade gay conquistou seu espaço a partir de uma rua até reconhecimento nacional, Sean Penn foi muito bom.
Apesar do ponto forte com uma atuação exemplar, o longa em si não merece tanta pompa. Muito bom, mas não excelente. Principalmente depois de ver o Slumdog. O interessante mesmo é a parcela de realidade, o fato histórico da coisa. Vale ressaltar como também é levado em consideração o conflito interno de um homossexual até "sair do armário", a união de um grupo em defesa dos interesses em comum - coisa que não se vê com tanta frequência assim, e os relacionamentos amorosos tão conturbados quanto em qualquer filme hetero.
(Para aqueles que assistiram Brokeback Mountain e não gostaram pelo homossexualismo e só, nem gastem seus dinheiros com Milk.)
Para finalizar a maratona, por enquanto, a última sessão foi com Angelina Jolie em The Changeling (A Troca).
Bom, a fama da atriz de supermommy não é novidade pra ninguém, né? Provavelmente a melhor escolha para o papel. Como diria Nicole Kidman: "As one who would not let her son be forgotten", Jolie entende muito bem de babies.
Convenhamos, a mulher é foda. E encarnar outra mulher tão foda quanto não é pra qualquer uma.
(Confesso que não curti Jennifer Aniston ser trocada por ela, Brad Pitt combina muito mais com a Jenny do que com a Angie. Enfim, quem entende os troca-trocas Hollywoodianos?)
Enfim, o começo da minha semana de Carnaval em casa foi assim: overdose de cinema.
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