quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A inocência dos inocentes

Na minha época de terceirão, em 2007, gostava muito das aulas de literatura e artes, ambas matérias de uma mesma professora. Lembro de uma aula em que ela falou sobre cinema, e foi algo do tipo: "As pessoas vão ao cinema para fugirem da realidade. Os filmes têm finais felizes para suprir a necessidade do homem de acreditar, de ter esperança em coisas boas. Ninguém gosta de ir ao cinema para enfrentar as mesmas dificuldades do dia a dia."

Aos poucos esse estereótipo mudou. Com frequência vemos filmes sobre a pobreza e a miséria, sobre preconceito, sobre estupros, assassinatos, drogas e fatalidades em geral. Mesmo quando o assunto é pesado uma dose de esperança é aplicada, afinal, alguma coisa boa tem que ter. Quando tratam de favelas, normalmente tem projeto social no meio. Quando o personagem é viciado em drogas, a recuperação eventualmente acontece ou a família/amigos conseguem se desvencilhar do fardo e tocam a vida adiante. Desse modo, diversas possibilidades existem para garantir o mínimo de satisfação ao terminar de assistir um filme.

The Boy in the Striped Pajamas (O Menino do Pijama Listrado) é uma exceção. O pouco de "beleza" absorvido durante o filme desaparece logo quando o final torna-se óbvio e inevitável. A graça das crianças, o "quê" a mais responsável pelo adjetivo "bonitinho" carregado por todas elas, a tal da inocência que a cada geração diminui um tanto ultimamente tem sido a grande vilã ao redor das personagens mirins.

Milk a parte, todos os filmes sobre os quais escrevi neste espaço ontem (e agora) mostram essa mesma inocência. Seja por mergulhar em um bolo de cocô, seja por passear pela vizinhança ou por querer fazer um amiguinho novo. A mensagem dos filmes parece ser contra a preservação da essência infantil.

Obviamente não é essa a mensagem. Dói mais quando a vítima é um ser indefeso. Não somente indefeso pela sua força física, mas também indefeso mentalmente. A inocência impede a capacidade de desacreditar e permite a confiança absoluta naquilo em que você vê (seja realidade ou pura imaginação). Se em adultos ainda existem resquícios desse comportamento, lembremos como éramos quando crianças e queríamos ser tantas coisas diferentes e acreditávamos em tantas estórias que nos contavam.

O contexto é a Alemanha nazista. O pai da família é um soldado do partido que acaba de ser promovido, logo a família toda é obrigada a mudar de cidade. Dentro dessa única família as divergências de opiniões são gritantes. A avó, mãe do pai soldado, já demonstra o seu alinhamento no começo da estória. Enquanto a filha rapidamente aceita Hitler e o nazismo de braços abertos, o garoto não compreende o ódio aos judeus. Uma esposa desiludida com o homem com quem se casou praticamente entra em colapso ao tomar conhecimento da real função exercida pelo seu marido.

Tudo junto e misturado a uma amizade entre um filho de oficial nazista e um judeu em campo de concentração mostra como quando não se tem noção da proporção do problema qualquer relação entre indivíduos é possível. Talvez seja esse o ponto positivo. Mas não vale muita coisa perto do desenrolar da trama.

Parte da grande frustração desse filme é o papel adorável do menino Bruno. Antes fosse o Macaulay Culkin de O Anjo Malvado seria muito mais fácil de aceitar o destino da criança. Outro ponto frustrante é como o menino admirava cegamente seu pai por ser um soldado (eterno personagem nas brincadeiras de moleques) e consequentemente acreditava na bondade do seu trabalho. Finalmente, a frustração mor é em razão da inocência.



Tudo de bom no filme é desfeito na rapidez de algumas cenas. A reflexão que fica é apenas sobre a crueldade. Só.

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