Ontem estávamos no bar e ocorreu a seguinte situação: meu drinque veio sem canela! Como assim? Naquela mesma semana o mesmo drinque foi servido com o pózinho marrom, então eu quero! Sim, eu fiz questão de exigir canela. Quando o garçom me informou que não conseguiam encontrar a bendita, fiz a seguinte sugestão:
- Bom, como tá faltando uma parte da bebida, não tem como cobrar menos?
A reação imediata da mesa inteira foi ridicularizar minha atitude, afinal, quanto drama só por um pouco de temperinho numa bebida, não é mesmo? Não faz sentido perder tempo e incomodar o pobre garçom, que não tem nada a ver com o drinque nem com a canela.
Outro momento brilhante que apenas um amigo pôde presenciar ocorreu no Mc Donald's (não, não fui contra o sistema). Nós dois pedimos exatamente o mesmo sorvete, um tal de Top Sundae, sabem qual é? Pois sim, o próprio. Apesar de os pedidos terem sido iguais, a pessoa que me atendeu simplesmente me entregou um sorvete equivalente à metade daquele que foi servido ao meu amigo. Sim, eu exigi o mesmo tanto de sorvete.
De novo, a mesma reação. Meu companheiro não conseguia controlar seu ataque de risos enquanto eu explicava para a gerente que queria o mesmo tanto de sorvete que ele. Sou mesquinha, né? Quanto drama, quanta tempestade em copo d'água, quanto exagero por coisas tão pequenas.
Não, amigos, é tudo por uma causa maior. Uma característica dominante em parte dos brasileiros de classe média/alta é não exigir seus direitos de consumidor. Não faz diferença se o produto que você comprou custou trezentos milhões de reais ou apenas um mísero real. O preço é proporcional ao trabalho e custo de materiais para produzí-lo, na maioria das vezes. O fato de não exigir canela no drinque que sempre deveria ter canela é o mesmo que dizer: Tudo bem, você não precisa entregar o produto completo pelo qual estou pagando. É fazer papel de idiota.
O mesmo é aplicável à típica situação de ignorar o um centavo de troco. Rá, também sou chata com isso! Além de estarem deliberadamente roubando seu dinheiro, é propaganda enganosa aquele preço R$X,99 com o intuito de apenas passar a impressão de o produto não ser tão caro quanto realmente é.
As copiadoras ao redor da universidade encontraram uma alternativa para esse problema: o troco em "vale centavos". É uma solução, por mais que não seja dinheiro de verdade, pelo menos é possível pagar algum xerox em acúmulo de "vales". Porém, ontem fui surpreendida ao receber meu troco em centavos de moeda! Praticamente uma revolução.
A moral da história não é apenas uma questão de ser chata ou implicante. É uma questão de respeito. Tentar passar a perna em alguém vendendo qualquer mercadoria que seja incompleta ou fingir que o troco não existe, para mim, é insultar a inteligência alheia.
São tantas as situações em que não valorizamos o trabalho árduo de alguém para conseguir aquele dinheiro que passou a ser mais um hábito. Podemos fazer uma comparação com aquela propaganda sobre pirataria na qual o filho de um casal colou na prova. Ó céus, foi isso o que os pais ensinaram ao menino quando compraram um dvd pirata? Não exatamente, mas é tão próximo quanto qualquer situação em que a moral é deixada de lado.
Jennifer Ann Thomas